No texto chamado "Do Pedantismo", Michel de Montaigne busca refletir acerca da distinção entre erudição e sabedoria; o que pode parecer um pouco estranho, pois geralmente elas não parecem ser coisas distintas, ou seja, uma pessoa sábia é uma pessoa erudita. Contudo, essa distinção parece ser bem clara para o filósofo francês, se entendermos erudito como alguém que apenas domina um conhecimento, alguém que apenas ostenta o conhecimento como um bem cultural – uma bagagem cultural como normalmente as pessoas dizem. Nesse caso, portanto, aquela educação que tenha como fim apenas a retenção de conhecimento – apenas encher a nossa "bagagem" – seria uma educação pedante, visto que, não nos tornaria homens melhores, não nos prepararia para a vida.
Portanto, quando nos direcionamos ao texto de Montaigne, precisamos ter uma outra postura filosófica que não aquela que faz análises minuciosas do texto, buscando uma argumentação exaustiva em prol de uma tese. Ao contrário, o filósofo propõe uma outra filosofia, em seu conteúdo e sua forma – uma filosofia que mais é uma efetivação do "conhece-te a ti mesmo" socrático, onde o desenvolvimento do próprio pensamento é a busca por sua própria identidade, e isso, com certeza, é a sabedoria e a radicalidade do pensamento de Montaigne em seu tempo.
Ainda assim, no entanto, essas duas definições, de sabedoria e de erudição, onde a primeira estaria relacionada à qualidade do conhecimento e a segunda à quantidade do conhecimento, sendo que a primeira tem mais valor do que a segunda para o filósofo, parece ser muito arbitrária, pois: o que nos garante esse valor maior de uma em relação a outra? Que razões o filósofo tem para determinar que o que importa é aquilo que nos prepara para a vida? Será que a mera erudição não nos prepara para a vida também? Que vida é essa e o que significa nos tornarmos homens melhores? O mais certo, todavia, é que não encontraremos nesse texto - aliás, em nenhum ensaio de Montaigne -, a pretensão de chegar a uma verdade absoluta, mas sim, apenas o ponto de vista de uma pessoa que está se "fazendo" no próprio ato de escrever, que está se experimentando, como fica claro na advertência ao leitor:
"Quero que me vejam aqui em minha maneira simples, natural e habitual, sem apuro e artifício: pois é a mim que pinto. Nele meus defeitos serão lidos ao vivo, e minha maneira natural, tanto quanto o respeito público mo permitiu" (Montaigne, p. 4).
Portanto, quando nos direcionamos ao texto de Montaigne, precisamos ter uma outra postura filosófica que não aquela que faz análises minuciosas do texto, buscando uma argumentação exaustiva em prol de uma tese. Ao contrário, o filósofo propõe uma outra filosofia, em seu conteúdo e sua forma – uma filosofia que mais é uma efetivação do "conhece-te a ti mesmo" socrático, onde o desenvolvimento do próprio pensamento é a busca por sua própria identidade, e isso, com certeza, é a sabedoria e a radicalidade do pensamento de Montaigne em seu tempo.
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